quinta-feira, 2 de dezembro de 2010

Sêmen

Não há valor algum nas palavras.
Não que não valham nada.
Tudo bem nós sabemos que também não valem.
Mas o que quero dizer é que são de valor inestimável.
Quanto pagaria pelas palavras de clarice?
Nada por certo.
Acho mesmo que sequer elas deveriam ter sido escritas, tamanha sua inestimabilidade.
Os canhotos escrevem como quem está adiante das palavras, e é como se estas o seguissem.
Eles estão sempre um passinho a frente da idéia-objeto.
talvez aí resida sua "criatividade".
O destro empurra as letras fazendo força, como que estivesse a parir palavras.
Os partos são SEMPRE um tanto delicados e outro tanto perigosos.
Sou destro.
E minha palavra agora é aborto.

terça-feira, 6 de julho de 2010

Louvado seja nosso Senhor

Deus está na papa que como
Em noites perdidas de sono
Deus caiu no chão
Foi um real que perdi

Ele está nos versos da lavadeira
É desarranjo de fim de feira
Está no canto em que choro calado

Deus...
Deus é ponto na reticencia
É cona, falo, inocencencia
É briluz nos olhos do cão

Verde que chove em Edir Macedo
Sotaque de Padre Quevedo
Deus acenou pra mim -Oi!-

Senhor estrela faceira
Olho de vidro de rezadeira
Cabeça de Lampião a rolar

Ele é quartinho de cana na mesa do bar
É uma relíquia falsa no altar
Senhor primeira regra de menina

É o válido e o desvalido
É o pedido não atendido
O caminho da danação

Nele me encontro e rendo graças

Ele é o "É" no meio da frase no parachoque do caminhão

terça-feira, 11 de maio de 2010

BBW

Alvos fartos seios
Escarlate colore a chibata
Entumescidos miram os lábios
E os lábios emolduram a fome do algoz

E a fartura dos seios...
E o farto querer...

Seios que em desespero anseiam pelo todo
E o todo em desespero

Canta a chibata rompendo o vento
Ribomba a chibata
Rubor e leite

Derrama-se o desejo que transcende o que se alcança
a pulso ou concessão

É sufocar que se deseja
E morrer talvez

segunda-feira, 15 de fevereiro de 2010

Medo de bala

Eu tenho medo de bala
O cu se fecha; se cala
Eu tenho medo
É segredo
Eu caio em pranto
e me canto
Me viro em fera
Quimera
Desapareço
e me esqueço

quinta-feira, 28 de janeiro de 2010

No onibus

Tenho medo
É o meu pau
Que começa a ficar duro
O coração dispara
E lá está ele

DURO!

Olho para os lados
Sinto muito medo
Principalmente por não usar cuecas

Ao meu lado uma senhora gorda sorri
Eu não
"Tarado!!!" ela pode gritar a qualquer momento
-Calma, moça. Desculpe. Talvez seja a trepidação. Não sei.-
Não haveria tempo para discutir
Vocês sabem como tratam os tarados

Minha parada está chegando
E eu vou levantar assim?
de pau DURO???!!!
Meu olhos já estão marejados
Quando ele começa a repousar
Agradeço a Deus

Mas ele sempre repousa antes de chegar
Sempre
Sempre
Sempre

Mas se um dia ele teimar em ficar DURO?

quarta-feira, 20 de janeiro de 2010

Minha amiga

Dizia palavras bonitas
sobre flôres, estrelas cadentes, o gosto e o cheiro da terra molhada.
Tão animado falava sobre o que é todo e que não existe parte.
Cantou afinado e desafinado
Era todo Deus; gozo e frigidez

Ela que permaneceu calada sorriu.
E disse
"Dá até vontade de dizer que te amo"

Ele se calou
era terno ser e estar n´aquilo sobre o que não se fala.

terça-feira, 12 de janeiro de 2010

Nossa Senhora de Lourdes


Brincavamos de pega, de polícia e ladrão, de pega-macaco
Eu levava meu radinho, escutavamos musica sob ou sobre a goiabeira
Pegavamos insetos num pequeno jardim e os guardavamos numa garrafa só pra soltar depois
E aquela arvore encostada na parede do patio?
Lembro-me de tê-la subido e pulei o muro
Tia Zélia não gostou nem um pouco
Mas foi uma aventura e tanto!

Tia Carmelita
Tia Suely
Tia Rosângela
Tia Zelia
...

Eu sempre copiando as tarefas até depois do final das aulas
Elas estavam lá, sempre pacientes
As vezes seguravam minha mão

Não sei bem do que vocês brincam hoje
Provavelmente não escutam Raul Seixas como eu e o Rodrigo faziamos no meu pequeno gradiente
Não sei os nomes de suas Tias nem os de seus coleguinhas, mas espero que sejam todos ótimos como foram os meus


Eu passava por aí até mesmo durante as férias
E tia Zélia me deixava tomar banho de piscina!

-Rafael, Rodrigo, Carminha, Adson! vamos!-

E ficavamos lá por horas


Mas eu cresci


Meus amiguinhos cresceram

E gente grande inventa cada caminho pra seguir que nem te conto

Acho que algumas Tias se aposentaram

E as salas foram ficando pequenas
As cadeiras pequenas
Os banheiros pequenos
O patio...
...quando fechei os olhos ficou enorme denovo
E eu podia ouvir os mesmos gritos da hora do recreio

E eu chorei

Mas sorri também