quarta-feira, 5 de fevereiro de 2014

Agora vá

A morte, meu filho, nada tem a ver com paraíso ou inferno. Ela, para quem quer que seja, não tem parte com o que foi feito em vida. É repousar em escuridão, é como ser abandonado no âmago de si mesmo. Não há encontro com aqueles que já partiram, nem caldeirões ferventes cheios de gente. Nessa falta de tudo não se tarda a enlouquecer. Alguns mergulham em suas mais terríveis angustias, e nela permanecem. Outros fingem que está tudo bem e assim seguem pela eternidade. Mas eles estão sós. Sem qualquer vislumbre de sentido ou de Deus; a vida após a morte é pura solidão. Agora vá brincar...

domingo, 30 de janeiro de 2011

Oco

Vazio
Oco
Vão entre as partículas
Casca de cigarra
Inflado o maior orgão do corpo humano
Não consigo escrever
Há morte

quinta-feira, 2 de dezembro de 2010

Sêmen

Não há valor algum nas palavras.
Não que não valham nada.
Tudo bem nós sabemos que também não valem.
Mas o que quero dizer é que são de valor inestimável.
Quanto pagaria pelas palavras de clarice?
Nada por certo.
Acho mesmo que sequer elas deveriam ter sido escritas, tamanha sua inestimabilidade.
Os canhotos escrevem como quem está adiante das palavras, e é como se estas o seguissem.
Eles estão sempre um passinho a frente da idéia-objeto.
talvez aí resida sua "criatividade".
O destro empurra as letras fazendo força, como que estivesse a parir palavras.
Os partos são SEMPRE um tanto delicados e outro tanto perigosos.
Sou destro.
E minha palavra agora é aborto.